Cancioneiro do Fim do Mundo
(Versão PT – BR)
É hora de comprar o pão e a inflação, minha nossa senhora
É hora de corrigir o relatório e os erros de anos de aprendizagem, Dona Cecília
É hora de vestir as crianças e seus vocábulos tolos, Dona Emília
É hora de ler o jornal digital e respeitar o apresentador do Sudeste, Seu Antônio
É hora de responder os e-mails e esquecer as cartas, Seu Eduardo
É hora de lavar os pratos na lavadora, Dona Clarissa
É hora de acompanhar a política e a economia, Dona Eulália
É hora de ver o movimento da vida público-privada.
Público-Privada
Público-Privada
Uma gente que ainda que pretenda
Ocupar o espaço público
continua alijada.
É hora de entender algo lá fora
É hora de buscar assimilar
Tudo aquilo que você não vai participar?
Do alto da sua vida mesquinha
Do alto do seu poder limitado
Do alto da sua prosódia cafona
Do alto do seu ego inflamado
Você acredita que faz diferença
não é mesmo, senhor Eduardo?
***
Sua compreensão sem participação
faz diferença, minha dona Eulália?
***
Como são convidativos esses políticos
todos legitimados por essa
Democracia
mais vazia do que
o fim social
do
Estado.
Aliás, o que diabos é o Estado?
Vocês falam de república como se ela matasse a fome.
***
Minha menina ainda nem tem nome na lei
não registrei e não foi por falta de cuidado
Moro a 200 km do primeiro povoado
Não tenho ninguém além de minha mãe
Idosa, bem idosa
De modo que agora
Tenho duas crianças
Dentro de casa.
Quando vou ao povoado,
tento entender esse mundo que muda
É celular, é internet
E não tem mais orelhão
Um buraco no chão se abre:
esse mundo tem mais coisa
do que eu consigo dar conta.
Mas já entendi algumas coisas
Sei que como o amor
essa tal Democracia
é algo bom, faz bem pro povo
Quero que continue
Se eu puder ajudar,
me chama.
Até lá eu oro.
***
Público-Privada
Público-Privada
Uma gente que ainda que pretenda
Ocupar o espaço público
continua alijada.
(Poemas de Gente Política – Bruna Alencar)
Petrolina/PE – 23/09/2019