happiness

Cantiga de amor
Cantiga de amigo
Cantiga grave
no meu estribilho.

Cantiga de romper
– a alvorada –
ou
cantiga de langor,
– estupor –
para aqueles que
aceitam a fome
seca
– despudorada -.

Cantiga para todos esses
para quem só sobrou cantiga baixa.

Cantiga que limpa a tarde
A cantiga de quem na cantiga
faz morada.

Cantiga de quem
sempre vê
um quê
de sorte.

Cantiga de quem não tem
namorada
mas também não tem
rancor.

Safras de cantigas
em tons pasteis:
Cantigas líricas
e nós, tupiniquins
a brincar
de menestreis.

Simplesmente porque
muitas vezes o poema
é um pouco mais
que nada:
É melhor dar uma
cantada.

(Poemas de Gente Política – Bruna de Alencar)

29/09/2019 – Petrolina/PE

chess

Problemas de Mundinhos Pequenos

É preciso carimbar
o documento digital
É preciso averiguar
a viabilidade do original
É preciso esclarecer
o que vemos de longe.

É preciso repetir
aquilo que sequer
chega a ser
dissonante.

É preciso triturar,
mascar o ser pensante:
na maluca mácula
de se tornar inteligente
e esquecer todo o restante.

É rima pobre,
é rima rica,
é preciso tirar a prova
vasculhar o diletante:
nada nunca basta
para quem nunca chega a ter
o suficiente.

Os sofistas só
mudaram as vestes,
mas todos os outros
ajudam na distração:
na procura de objetos
ausentes
é fácil não perceber
quem procura
o pão.

(Poemas de Gente Política – Bruna de Alencar)

28/01/2019 – Petrolina/PE

friday cat

Em uma primeira medida
Eu amo poder amar.

Eu não amo os conceitos
Eu não amo os coeficientes
e tampouco amo as variáveis.

Eu amo poder amar tudo aquilo que existe.

Simplesmente
Porque
nesse momento
eu paro de perguntar
– eu consigo –
arder em chama calma.

Talvez eu seja uma pessoa
alegremente triste
ou tristemente alegre
– não sei –
e não sei se gosto e
não sei se gostaria de saber:
fiquemos um pouco mais quietos
eu e o poema
talvez descobrir muito
seja um mero novo estorvo
ou
as descobertas nos encontrem
como
uma uma nova
guelra.

Só que agora
dentro de mim
dentro dessa
cabeça que pensa que espera
e também pensa que ama
é bom
poder
sustentar
um amor
sem
alarde.

Quanta mentira!
faço poemas
com sanha de documentar,
guardar o sentimento,
pairar na eternidade.

É bom ter um amor que nos reapresenta o mundo.

Amo a metafísica do cair do tarde.

(Poemas de Tempo e Toque – Bruna de* Alencar)

Petrolina/PE – 27/09/2019
Em setembro de 2019 resolvi usar melhor meu sobrenome*.

the love song - sir edward burne jones
(Oil On Canvas – Chant d’Amour – Edward Burne-Jones)

Several ways of going home
Several ways of remaining silent
Several ways of burning hours
Several ways of self entering.

Several ways of changing plans
Several ways of being innocent
Several ways of being reckless
Several ways of realizing crisis.

Several ways of forgetting dreams
Several ways of feeling sorrow
Several ways of unbreathing
Several ways of losing reason.

Several ways of feeling treason.

Several ways of saving time:
simply stop trying.

Anguished Dreams.

(Bruna de Alencar)

tears

I left my dignity at you table
but let’s act politely, graciously
please take your seats
hurry up to be gentle:
friendship intentions.

But
Let me give the bad news:
I am too passionate
to pretend being
something else
than an
animal.

(Here is
my core
problem:
Blinded zone.

Popularly known
as emotion

Between
silly and dumb
there is
a similiarity

I should have
never let you in).

(Bruna de Alencar)

helloo

Só existem
– fundamentalmente –
dois caminhos:
Nada importa
Tudo importa.

Seguir pelo primeiro implica
em derrota necessária adiantada.

Seguir pelo segundo implica
em vitória vislumbrada
e nunca alcançada.

Pelo o primeiro caminho
se rasteja. Ponto.

Pelo o segundo se deseja
o simples ato de caminhar:
é bom estar no rumo.

Dentro do segundo,
por seu turno,
alguns graus se interpõem
– É preciso escalonar –
Me diga rápido:
O que importa mais?

Diante de tudo o que existe
a partir de cada suspiro:
escolhes o canto ou o pio?

Diante de tudo o que existe
O que você escolhe realizar?

Você: só você
sem esperar pela coletividade
aqui, só entre nós dois
Eu, enquanto a voz
você, enquanto você:
O que te importa mais?

Não estamos sós
Nunca estaremos
Mas algumas coisas
nos habitam mais
e são essas coisas
que dizem mais sobre nós
do que puderam dizer
quaisquer fonemas.

São essas coisas
simples, leves
que pairam
como sons
que arrulham
como pássaros
e que
transmitem
a mensagem:
Só a vida
no pensamento
combate a morte
na sinfonia do tempo.

Como se o amor
pudesse
subverter ao pó,
limpo minha casa
para ti
e
por que te amo
você me importa mais
que eventuais enganos
(Esqueço os contratempos).

Por que te sinto
Me importo contigo
como uma fatia grande
desse mundo que amo.

(Poemas de Toque e Tempo – Bruna de Alencar)

Petrolina/PE – 26/09/2019

brumadinho

Cancioneiro do Fim do Mundo
(Versão PT – BR)

É hora de comprar o pão e a inflação, minha nossa senhora
É hora de corrigir o relatório e os erros de anos de aprendizagem, Dona Cecília
É hora de vestir as crianças e seus vocábulos tolos, Dona Emília
É hora de ler o jornal digital e respeitar o apresentador do Sudeste, Seu Antônio
É hora de responder os e-mails e esquecer as cartas, Seu Eduardo
É hora de lavar os pratos na lavadora, Dona Clarissa
É hora de acompanhar a política e a economia, Dona Eulália
É hora de ver o movimento da vida público-privada.

Público-Privada
Público-Privada
Uma gente que ainda que pretenda
Ocupar o espaço público
continua alijada.

É hora de entender algo lá fora
É hora de buscar assimilar
Tudo aquilo que você não vai participar?

Do alto da sua vida mesquinha
Do alto do seu poder limitado
Do alto da sua prosódia cafona
Do alto do seu ego inflamado
Você acredita que faz diferença
não é mesmo, senhor Eduardo?

***

Sua compreensão sem participação
faz diferença, minha dona Eulália?

***

Como são convidativos esses políticos
todos legitimados por essa
Democracia
mais vazia do que
o fim social
do
Estado.

Aliás, o que diabos é o Estado?
Vocês falam de república como se ela matasse a fome.

***

Minha menina ainda nem tem nome na lei
não registrei e não foi por falta de cuidado
Moro a 200 km do primeiro povoado
Não tenho ninguém além de minha mãe
Idosa, bem idosa
De modo que agora
Tenho duas crianças
Dentro de casa.

Quando vou ao povoado,
tento entender esse mundo que muda
É celular, é internet
E não tem mais orelhão
Um buraco no chão se abre:
esse mundo tem mais coisa
do que eu consigo dar conta.

Mas já entendi algumas coisas
Sei que como o amor
essa tal Democracia
é algo bom, faz bem pro povo
Quero que continue
Se eu puder ajudar,
me chama.

Até lá eu oro.

***

Público-Privada
Público-Privada
Uma gente que ainda que pretenda
Ocupar o espaço público
continua alijada.

(Poemas de Gente Política – Bruna Alencar)

Petrolina/PE – 23/09/2019

poverty

Veio a mim, meus bons samaritanos
Durante uma noite perturbada
Uma iluminação quase casta:
A Teoria da Vontade Rizomática.

Na Teoria da Vontade Rizomática
todas as vertentes partem
de um saber uno
que, coincidentemente,
se mostra humano.

A teoria de um querer que não diz nada
Consome. Impera
A teoria das objeções enigmáticas
Intuídas e já pacificadas.

A teoria de um Poder que nada investiga:
é a própria profecia daquele que lidera.

A discordância, um estorvo
O sossego, o silêncio
teoria que encontra fundamentos
no puro e verdadeiro desconforto.

Teoria da Vontade Rizomática,
Concebida pelos diletos
Seres pensantes
Que implantaram
Por sonho
Um saber que tudo
Resolve
Um saber que tudo
Conforta.

Vinde a nós
enquanto coroa de flores,
Teoria da Vontade Rizomática,
Te aceitamos como sois:
Estapafúrdia
Escalafobética
Público-Privada
até em sua falta
de modos e métrica.

o Soberano,
Seu clã, sua sorte
Seu entendimento
a fina expressão
De abobalhamento.

Do outro lado,
o país
contente, passa fome.

(Poemas Prensados – Bruna Alencar)

22/09/2019 – Salvador/BA

no time

De alguma forma tenho me despedido cedo
de tudo aquilo que encontrei já tarde:
as pessoas, os lugares, os jornais
é preciso viver enclausurado
renunciar ao tempo gasto sem lastro.

É tempo de gestação de algo que me consome
Me chupa os rins, me bebe das artérias:
gosto de paz e de política,
meus eus são conciliáveis?
minhas razões são renunciáveis?

Ausculto minhas vontades.

Diante do Mar, o velho se dissolve
O infinito se descobre soberbo
O limite da vida é o toque.

Entre Hemingway, Borges e Darwin
elaboro minha fita métrica do real
é momento de arder por uma perspectiva.

O movimento analítico por pouco empala
Cuidado, minha filha
Vá tomar um chope.

(Poemas de Tempo e Toque – Bruna Alencar)

21/09/2019 – Salvador/BA

acid xx

O fã é um passivo
É aquele que olha os demais:
admiro tanto tua arte
me faltam dedos
me sobram ais.

A natureza de uma linha
– invertebrada e inquebrantável –
que separa um mundo de modos
distingue os dados do caos
estabelece os limites
– de um sonho sonhável –
pelos repatriados,
coxos, mutilados
os
– sonhos habitáveis –
pelos reles, banais.

Desprezo a postura de fã
Brinco com lábios e letras
da mesma forma como
facilmente
rabisco
um rabo
no cometa.

Não é que portas não se abram
É você que não entraria
mesmo que pudesse
identificar
portais.

Não sois príncipe, meu caro
É gente que sois:
Lave suas louças
e aqui
ganharás bem mais.

(Poemas de Toque e Tempo – Bruna Alencar)

Salvador – 21/09/2019

palestine free

Problemas de Crédito e Débito

A última alma
que chega
é sempre
a gêmea.

A melhor
pessoa
do mundo
é sempre
paisagística.

O amor
pela humanidade
é sempre
da porta
para fora.

Eu vejo todos os
ruídos
ensimesmados:
minhas íris
caem
de lado.

Não se maltrata
o próximo
que mora dentro
e se sai
ileso pelo outro.

Há uma
porta pintada
em toda atmosfera:
são nas maçanetas
e não nas bombas
que a verdade
se desvela.

(Poemas de Tempo e Toque – Bruna Alencar)

Petrolina/PE – 12/09/2019

bird

Tenho preferido poesia
por razões claras:
não tenho tempo para explicar-me
e se explicasse, não entenderiam.

Na poesia mantenho metáforas
Se não entendes, uso anáforas.

Veja
Veja
Veja
Ainda que tempo eu tivesse
Seu tempo de ver seria outro:
condicionado pela idade,
escolaridade, trabalho,
gênero, classe, saúde,
corpo, sexo, cidade
e até pela generosidade consigo.

Então me diga:
eu faria o quê com tantas palavras?
Não quero reter, eu quero encontrar.

Nesses termos, eu tenho preferido poesia
Prefiro não ter tempo de te explicar
E guardar o momento para nossa simetria.

Com o toque relembrarmos juntos
O que os anos carregam com um sopro
É bonito que tenhamos um ao outro.

O maior professor é o tempo
Eu sou só mais uma arqueóloga.

E de nada serve estar sozinha:
todo saber é um zigoto.

(Poemas de Tempo e Toque – Bruna Alencar)

Petrolina/PE – 11/09/2019

lisa simpson

Só tenho um valor
em absoluto:

A grandeza
de quem se mostra
puro
nos bastidores.

(Poemas de Tempo e Toque – Bruna Alencar)

Petrolina/PE – 11/09/2019

sex 1

Meu coração tem o tempo de um sorriso
Mas eu posso te amar com a força da bíblia
Minha estrada anda cheia de gárgulas e gargarejos
E eu não te peço nada
além de uma boa estada.

Meu coração sacoleja sem muito ruído humano
Tenho respirado pelos poros e portos
Te quero como um sopro e salto
Eu só toco o acaso
quando as mãos vertem ouro:
seu olhar é delicioso.

Meu coração não é trambiqueiro, não é saltimbanco:
sabe de onde veio, sabe para aonde vai
Nas trocas entre os átrios e os ventrículos
Eu risco teu nome nos jornais.

(Poemas Prensados – Bruna Alencar)

Salvador
10/09/2019

portinariii

(Portinari)

Sou feliz
Estou feliz
– faço questão de transpirar felicidade.

Sou triste
Estou triste
mas
– faço questão de transpor à tristeza.

Não vejo problema
Não vejo justificativa
Só vejo o fluxo da dor no poema.

Ser feliz doi
Ser triste doi
Em quaisquer circunstâncias
O homem é aquele que cai.

(Poemas de Tempo e Toque – Bruna Alencar)

05/09/2019 – SP

liooon

Então o leão mostrou as presas
e ninguém aqui é cordeiro
Selvagem! Selvagem!
O instinto impera
alguns correm,
outros, não.

A maior grandeza é ser franco
Andar pelo mundo
e não terminar
ressequido.

Tenho duas pernas
e uma bunda contente
sou uma mulher, Milord
não sou uma traça
tampouco vou
me fingir de burra.

Selvagem! Selvagem!
Te doem as órbitas dos olhos
Tomei sua visão de relance
não adianta tentar fugir
eu te tenho na minha intuição:
tudo o que você esconde
eu acabei de desvendar.

Ainda que o contato
Se baseie em atração
As bocas se procuram
e se afastam
o poder arde, inflama.

Você só queria um pouquinho
mais de força
para impor ao mundo sua métrica
mas não consegue sequer
fugir das aventuras mundanas.

Mas o destino é certo:
a história não erra por pouco
leão mesquinho
vai morrer de inanição.

Sem o amor, o toque e a matilha
nem os homens e nem os leões
sobrevivem à cova.

Aliás,
Daniel,
com quantos
leões
se faz
um
provérbio?

(Poemas de Tempo e Toque – Bruna Alencar)

lindo

Eu te ajudo, se você pedir, eu te ajudo. Eu tiro minha pele para te cobrir. Eu seco minhas veias para encher as suas. Mas eu preciso que você peça, eu preciso que você queira. O problema não é a queda, meu bem. O problema é querer viver estatelado. Há uma distância abismal entre o estatelado e o estrelado. Não é um jogo de letras. É o encantamento que não pode ser perdido.

Esqueça de ser a melhor do bairro, pra quê tanta performance? Você mais é mais bonita quando está pelada do que vestida. Se é para andar desista se estar atada. Eu quero o sorriso no seu olho, é aqui que reside o sagrado. Eu tampouco preciso que seu brilho se mostre para mim de novo. Eu só preciso que você levante. Levante. Grite. Urre. Levante ao menos para me mandar ir embora.

Me xinga, me rasga, me quebra na porrada, eu só te imploro que reaja! Você não precisa estar na novela das 19 h, você não precisa retornar a ligação da sua mãe, você não precisa ter uma áurea perfeita, você só precisa acender uma fagulha que seja. Eu entendo que você não aguenta as chamas. Por enquanto. Aliás, se só por enquanto ou se pelo resto da vida, não importa! O que eu não aguento é que o mundo te perca por nada.

Olha ao redor! você consegue transformar um casebre em ouro! nada disso estaria aqui sem a sua presença. Seu rabisco vira tela. Um trambolho vira trompete. Um beliscão vira um besouro. Qualquer papel chamuscado pode virar origami. Você só não pode virar essa doença que te consome.

(As Cartas Que Vocês Nunca Receberão – Bruna Alencar)